Fotos da nossa visita à GNR

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Visita à Cercica

No passado dia vinte e sete de Janeiro de dois mil e onze, quinta-feira à tarde, tivemos oportunidade de ter uma reunião de esclarecimento na Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados de Cascais.
Esta visita teve como objectivo o contacto com profissionais envolvidos para um melhor entendimento do funcionamento e dos resultados da Terapia Assistida por Cães.
Tudo começou às 14h30 quando, finalmente, chegámos à Cercica e fomos, gentilmente, encaminhadas para a sala de espera. O encontro com a responsável pela Cinoterapia, a Doutora Joana Bettencourt, estava marcado para as 15h00, que, à hora marcada, nos conduziu para a sala de reuniões. Após uma breve apresentação entraram na sala a Doutora Graça Costa, terapeuta ocupacional, e a Senhora Patrícia Rodrigues, responsável pelo tratamento dos cães.
A Cinoterapia é uma prática que recorre ao cão como co-terapeuta. O cão é, deste modo, um instrumento que estimula e facilita a reabilitação global do paciente.
A Cercica começou no ano de 1976, devido à necessidade de prestar educação a uma parte da população que não encontrava resposta no Ensino Regular. Deste modo, «a Cercica – Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Cidadãos inadaptados de Cascais - tem por missão a solidariedade social e o desenvolvimento de actividades de apoio em diferentes domínios de intervenção, dirigidos a indivíduos com deficiência mental ou com problemas de inserção socioprofissional, visando a defesa dos seus direitos individuais, de pessoa e de cidadania.», segundo o site da Cercica.
A Cinoterapia na Cercica teve início com a apresentação de um projecto ao antigo Secretariado Nacional de Reabilitação, actual Instituto Nacional para a Reabilitação, em 2001. Apesar de ser um projecto simples e pouco estruturado, nasceu o interesse pela prática de Cinoterapia, pelo que começou a ser orientado um Curso de Canicultura (formação profissional), pela Senhora Patrícia Rodrigues, numa antiga garagem adaptada a canil.
Contudo, os cães que a Cercica possuía não eram os indicados para a prática da Terapia Assistida por Animais, devido à sua idade. Então, uma associação americana ofereceu uma cadela Collie, a Cica. A Cica era uma cadela treinada e vocacionada para sensibilização escolar, nomeadamente para a prevenção de incêndios direccionada para crianças.
Deste modo, a Doutora Joana Bettencourt, a Senhora Patrícia Rodrigues e a Doutora Graça Costa receberam formação por parte da Bocalán e os cães eram treinados por um antigo colaborador de um Centro de Educação Canina, a Educacão, de modo a treinar actividades relacionadas com a obediência, como o sentar, o estar quietos, …
Inicialmente, as sessões de Agility eram na Quinta da Marinha, três vezes por semana, nomeadamente às segundas, quartas e sextas-feiras, pois tenta-se que seja uma actividade mantida regularmente. Durante os cursos de Agility existem percursos diferentes, pois estas actividades são abordadas de forma a proporcionar diferentes mobilidades. Actualmente, é realizado duas vezes por semana e tem lugar em Alvide.
Além disso, também tiveram outras ofertas de particulares, nomeadamente dois cachorros, um Labrador Preto, o Black, e um Golden Retriever, a Tocha. O Senhor Carlos Mendes também ofereceu uma cadela, uma Labradora Preta, a Dicky, e foi emprestado um cão de água treinado e utilizado em anúncios, o Chico.
Durante algum tempo, tiveram uma parceria com uma loja de cuidados de animais, a MegaPet, onde aprendiam a cuidar e a tratar os animais e usavam o espaço. Para além do mais, também possuem uma parceria com a Associação Ânimas, principalmente na parte da formação e do treino dos cães, e a Doutora Graça Costa e a Senhora Patrícia Rodrigues tiraram cursos de Terapia Assistida por Animais. Em Outubro de 2006, foi mesmo organizado um seminário, juntamente com a Fundação Bocalán. Deste modo, todo este processo foi uma aprendizagem em conjunto, sendo que a Doutora Joana Bettencourt referiu mesmo que «Aprendíamos todos».
Os cachorros que são escolhidos para realizar as sessões de Cinoterapia são seleccionados pelo seu carácter, sendo que na escolha do cão, joga-se com as características do grupo, tentando escolher diferentes cães, de modo a proporcionar novas sensações. A saúde dos animais é fundamental, tanto vacinas, idas ao veterinário, … As raças mais utilizadas são Labradores, Golden Retriever ou Collie, por causa do carácter e da facilidade em aprender. Assim, os cães escolhidos aprendem com mais facilidade e são muito dóceis, treináveis, versáteis, ágeis e gostam de interagir e aprender. Além disso, os cães não vêem as nossas imperfeições e não nos julgam. Durante a criação e a selecção das ninhadas, a beleza não interessa, mas sim o carácter e o temperamento. Contudo, existem excepções, sendo que nem todos são indicados. Um exemplo era um cão que era muito macho alfa e, deste modo, não interagia e reagia bem com os outros cães.
A população alvo que costuma recorrer à Cercica para realizar sessões de Cinoterapia são, maioritariamente, doentes mentais. As pessoas escolhidas para esta actividade têm de ter o comportamento correcto, têm de gostar de animais e tem de ser benéfico e proveitoso. Apesar de os benefícios serem medidos caso a caso, no geral, é um estímulo calmante.
Durante as sessões estão presentes e envolvidos dois profissionais, nomeadamente um que trabalha com o paciente (psicólogo ou terapeuta) e um que trabalha com o animal. Além disso, o cão também está presente, funcionando como co-terapeuta e colaborador. Também existem voluntários envolvidos neste processo.
Apesar de, actualmente, estar a ser construído um espaço próprio para a Cinoterapia, ainda se utiliza uma sala que tem de ser partilhada, sendo que não está sempre disponível e que tem horários complicados. Por vezes, também são usados espaços exteriores, principalmente para caminhadas e actividades ao ar livre.
As sessões não devem ser isoladas, sendo que têm resultados quando estão interligadas a outros tratamentos e/ou terapias. Deste modo, a Terapia Assistida por Animais, inclusive a Cinoterapia, é apenas mais um instrumento para trabalhar com os pacientes, instrumento esse que tem a vantagem de ser algo novo e que provoca satisfação nos pacientes. Deste modo, as melhorias a curto prazo são difíceis, só existindo praticamente o prazer e a satisfação de estar com o animal. Relativamente aos benefícios a longo prazo, a Cinoterapia aumenta a amplitude dos movimentos, o estabelecimento de contacto e o aumento da concentração e da atenção.
Um dos casos reais mais marcante foi um rapaz americano que possuía deformações a nível da anca e que, deste modo, tinha dores frequentes e tornava-se difícil aguentar as sessões de fisioterapia. Com a ajuda do cão, isso tornou-se possível, sendo que realizava as sessões deitado e agarrado ao cão, permitindo a concretização dos exercícios. Portanto, o cão foi um contacto positivo que facilitou as sessões de fisioterapia, pois ao abraçar o animal, o rapaz sentia prazer e esquecia-se da sensação de dor e de sofrimento. Uma das primeiras palavras que disse em português foi cão.
Pretende-se que as sessões de Cinoterapia, quer sejam realizadas individualmente ou em grupo, sejam algo contínuo, pois ajudam a aprender de forma lúdica. Deste modo, estas realizam-se uma vez por semana, sendo que «têm todos um apoio semanal». Quando as sessões são individuais, as sessões duram no máximo trinta minutos enquanto que quando são em grupo são com mais de sete pessoas e têm, no máximo, uma duração de quarenta e cinco minuto, devido à capacidade de atenção. Por sua vez, as sessões de Agility duram, aproximadamente, duas horas.
Durante as sessões, os pacientes têm diversas tarefas, como escolher um cão, dar-lhe de beber e comer e fazer treino de obediência durante uns minutos.
Como cada paciente tem objectivos próprios é estabelecido um plano individual com uma série de objectivos gerais que são monitorizados e que estão de acordo com as suas capacidades, características e necessidades. Alguns exercícios postos em prática durante as sessões são: atirar bolas para o cão ir apanhar, fazer caminhadas, escovar e alimentar o animal e, realizar sequências de modo a trabalhar a memória para que se lembram do nome do cão, do que fizeram, do material que utilizaram, … Para além do mais, também fazem festinhas e dão biscoitos aos animais usados.
Quando os pacientes estabelecem o primeiro contacto com o animal, alguns demonstram medo, receio e cautela enquanto outros são destemidos e desinibidos. De um modo geral, as reacções são positivas, sendo que quando não podem ir às sessões, por motivos de doença, por exemplo, se sentem tristes e chateados. Os indivíduos que não têm capacidade de verbalizar, é possível notar a satisfação e o prazer através do olhar e dos sorrisos.
Através da visita à Cercica compreendemos o papel fundamental do cão na vida das pessoas com necessidades especiais, pois tem um papel de cúmplice, companheiro e parceiro, sendo que estabelece um ambiente de cumplicidade e intimidade onde tolera e aceita tudo, não faz juízos de valor e funciona como uma figura tranquilizante. Assim, com o auxílio da Cinoterapia tenta-se melhorar o que em princípio é para toda a vida, pois são mecanismos para os pacientes aprenderem a viver a vida de outra maneira e a alcançarem os sonhos. Portanto, tenta-se «minimizar ao máximo as incapacidades que eles têm», «desvalorizando as incapacidades e aproveitando ao máximo as capacidades e as potencialidades», como foi referido pelas profissionais envolvidas nas sessões de Cinoterapia.